O carro elétrico e as locadoras
*Por Paulo Miguel Junior, Vice-Presidente da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA)
Recentemente, tenho acompanhado intensos debates em vários canais a respeito da decisão da Hertz de desmobilizar parte de sua frota, especialmente a redução em 20.000 carros elétricos. Este é um tema recorrente nas discussões entre profissionais do setor de locação, e muitos me questionam sobre o futuro desse mercado e a viabilidade dos veículos elétricos nas locadoras. No entanto, antes de responder a essa pergunta, é essencial fazer uma análise abrangente do assunto.
Os veículos elétricos representam uma tecnologia relativamente nova, destinada a evoluir consideravelmente. Comparativamente aos veículos a combustão, que frequentemente apresentam novidades em termos de potência do motor e redução de emissões, os veículos elétricos ainda estão em um estágio inicial. Este é um território desconhecido para a maioria, e recomendo a todos que se aprofundem no assunto, explorando tanto os aspectos positivos quanto os desafios associados a essa tecnologia.
É importante ressaltar que a compreensão do carro elétrico vai além da leitura; experimentar o veículo é fundamental para uma apreciação completa. Não se trata apenas de uma volta no quarteirão, mas sim de uma experiência prolongada, de semanas ou meses, para compreender aspectos como o carregamento, os pontos de recarga, as peculiaridades do uso diário e as nuances da condução, tempo de duração da bateria especialmente no que diz respeito a freio e aceleração.
Falando sobre a condução, ao se acostumar com um veículo elétrico, aprende-se a otimizar a carga da bateria por meio do próprio veículo e de uma condução mais eficiente. Embora muitos veículos elétricos se destinem a deslocamentos urbanos ou viagens curtas, a experiência de dirigir um carro elétrico tem seus benefícios, como a ausência de ruído, arranque potente e uma condução suave devido à tecnologia embarcada.
Quanto à presença de carros elétricos nas locadoras, observo que, tanto no Brasil quanto no mundo, eles têm funcionado principalmente em contratos de locação de longo prazo, nos quais os usuários possuem seus próprios pontos de recarga. No entanto, na locação diária, os desafios aumentam, pois, muitos locatários buscam esses veículos para experiências curtas, sem compreender completamente os métodos ideais de recarga, dependendo por vezes de pontos públicos nem sempre eficientes e ainda utilizando de forma a descobrir ou abusar do veículo, razão pela qual o alto número de sinistros dos carros elétricos e seus custos de reparo mencionados pela Hertz.
A discussão central reside na disparidade de custos iniciais entre os veículos elétricos e a combustão. Embora a adoção de veículos elétricos esteja crescendo globalmente e agora também no Brasil, a expansão foi mais expressiva nos países com incentivos governamentais para aquisição, criando, por vezes, dificuldades na revenda e desvalorização do veículo devido ao incentivo inicial. Este cenário é exacerbado pelo desconhecimento do usuário, impactando a oferta e procura.
É crucial abordar a entrega técnica e a instrução ao locatário sobre o veículo elétrico, um ponto já discutido em eventos passados em Las Vegas sobre locadoras de veículos. A eficácia dessa alternativa para locadoras dependerá da administração cuidadosa dos veículos e da tarifação adequada, considerando a aquisição, manutenção e eventual venda. Recomenda-se, portanto, que antes de incluir veículos elétricos na frota, os gestores os utilizem pessoalmente por um período, compreendendo plenamente suas funcionalidades e avaliando se atendem às necessidades dos clientes. A decisão de incorporar veículos elétricos à frota deve ser baseada em uma análise racional, considerando cuidadosamente os custos associados a essa tecnologia inovadora.