Por: Rui Carvalho – [email protected] – Consultor
Os Convention & Visitors Bureaux – CVBx, entidades sem fins lucrativos que alavancam o desenvolvimento econômico e social das cidades através do incentivo ao turismo, existem há mais de cem anos. No Brasil, como no mundo, provaram ser o melhor modelo de gestão do turismo, conferindo status de força econômica estratégica a um setor identificado apenas com entretenimento e lazer. Parte do mercado, entretanto, ainda não conhece seu funcionamento e atrapalha sua sustentabilidade.
Boa parte dos 120 CVBx brasileiros ainda luta com a falta de recursos para suas atividades. Mal conseguem divulgar suas cidades, fazer captação de eventos, ou produzir materiais promocionais de seus destinos. A solução, infelizmente, tem sido mendigar um patrocínio aqui e ali, ou estabelecer convênios com órgãos públicos. Não precisaria ser assim. Os CVBx podem caminhar com suas próprias pernas. Basta aplicar com competência o modelo de sustentação financeira mais conhecido: a Taxa de Turismo ou Room Tax. Baseado na contribuição voluntária dos hóspedes dos hotéis conveniados, convidados a pagar um pequeno valor acrescido à diária, a room tax está universalmente consagrada e é obrigatória em alguns países (daí o nome room tax). Por aqui a idéia também não é nova. Uma das conclusões do I Congresso da ABIH – Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, em 1936, dizia que “é preciso criar uma taxa que subsidie a promoção turística no Brasil”. Setenta anos depois ainda há dificuldades em convencer alguns hoteleiros da necessidade de ajudar os CVBx a aumentar o fluxo de visitantes (hóspedes). Estamos perante a mãe de todas as contradições!
Os CVBx brasileiros têm na room tax, cujo pagamento é opcional, a principal fonte de recursos, chegando, em muitos casos, a 95% da arrecadação. Planejar ações sem ter controle sobre a receita é uma mágica difícil de fazer! Há ainda dificuldades com os órgãos de defesa do consumidor que alegam não estar clara a opcionalidade da contribuição. Por sua vez, os hoteleiros queixam-se da resistência dos hóspedes em aceitar a cobrança. Aparentemente, o nome “taxa de turismo” sugere tratar-se de tributo cobrado pelo poder público e o hóspede resiste em contribuir para o turismo, pois estando a trabalho, alega não ser turista. Do nosso ponto de vista, turista é todo aquele que passa mais de 24 horas fora do seu domicílio habitual, independentemente do motivo da viagem. Fora de casa ele consome os produtos e serviços que compõem a cadeia econômica do turismo. A solução, sem dúvida, passa pela abordagem correta de duas questões: o treinamento adequado das equipes dos hotéis, e a necessidade de convencer os hoteleiros da importância dos CVBx para o seu negócio. Precisamos fazer a lição de casa com mais competência e esgrimir argumentos irrefutáveis. Com a captação de eventos e negócios, e a divulgação da infra-estrutura do destino, contribuímos substancialmente com o aumento da ocupação dos hotéis. Há ainda outra mazela, mais conceitual, que urge combater: o pouco apreço do brasileiro pelo associativismo. Contribuir com a comunidade sem esperar recompensa individual ainda parece uma idéia esdrúxula! É lamentável. De tão simples, o raciocínio chega a constranger: os recursos arrecadados pela room tax são aplicados na promoção da cidade, ação que gera aumento no fluxo de visitantes. Estes vão impactar mais de 50 setores, como hotéis, táxis, comércio, telefonia, gastronomia e prestadores de serviços para eventos. O aquecimento da economia gera empregos e distribui renda, principalmente nas camadas menos favorecidas da população, aquelas empregadas pelo turismo de forma mais intensiva.
Perante tais evidências é possível concluir que só não contribui quem desconhece as vantagens do sistema. Preocupa-nos, especialmente, o fato de muitas grandes empresas, e até algumas operadoras de turismo, instruírem seus colaboradores e clientes a não pagar room tax. Se este modelo gera emprego e renda, está na hora de colocar o bem comum acima de vantagens pessoais. Analisar o assunto com o rigor de um bom economista também pode ajudar, mas se o problema é o nome, mude-se o nome! A Confederação Brasileira de CVBx recomenda não usar o termo “taxa de turismo”, mas a denominação original, “room tax”! Não podemos é ficar como avestruzes, com a cabeça enterrada na areia, enquanto um modelo de desenvolvimento sustentável, testado por mais de um século, patina na falta de visão estratégica de parte de nossos executivos e turistas. Turismo não é lazer, é economia, emprego e qualidade de vida. Quem for contra que atire o primeiro cartão de embarque.