Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é foco de novo estudo da ApexBrasil. Produtos alimentícios, máquinas e equipamentos de transporte estão entre as oportunidades para exportadoras brasileiras
Na esteira da XIV Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que teve lugar no último domingo (27), a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) lança o Perfil CPLP, estudo que traz análises e informações sobre comércio, questões de acesso a mercado e investimentos entre os países que fazem parte dessa Comunidade. A CPLP é um foro multilateral de cooperação entre os países de língua portuguesa, integrado por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Portugal e Timor-Leste. Criado em 1996, o grupamento busca fomentar a concertação política entre seus membros, a cooperação em todos os domínios e a difusão da língua portuguesa.
O ponto de partida para a formação da CPLP foi a língua portuguesa e seu significado como herança cultural compartilhada. A partir desses laços culturais, os países membros articularam crescente cooperação multitemática, na qual as questões econômicas ganham crescente importância. Dessa forma, seguindo a publicação dos perfis bloco Mercosul, União Europeia e BRICS, a Inteligência da ApexBrasil lançou essa semana o Perfil CPLP, com informações sobre o cenário do comércio internacional da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e seus nove países-membros.
Se pensada como uma economia individual, a CPLP seria hoje o 14° principal destino das exportações brasileiras, e os dados mostram que há espaço para crescimento. O Mapa de Oportunidades da ApexBrasil identificou 1451 oportunidades comerciais para empresas brasileiras nos países-membros da Comunidade, com destaque para óleos brutos de petróleo, tubos de ferro ou aço, produtos laminados, produtos alimentícios e máquinas e equipamentos de transporte.
Já entre os desafios a serem superados na relação comercial entre os países da CPLP, o estudo da ApexBrasil aponta a questão da logística para possibilitar maior circulação de produtos e pessoas. Outro desafio identificado é a promoção de uma maior integração de negócios entre os diversos países e ainda a possibilidade da criação de um banco de fomento.
Exportações brasileiras
As exportações do Brasil para a CPLP ainda se concentram em bens de menor valor agregado. Óleos brutos de petróleo, soja e milho não moído representam 62% das exportações. Outros produtos com destaque são laminados de ferro ou aço, açúcares, carnes de aves e preparações de carne, que contam com exportações acima de US$ 100 milhões e demonstram boa dinâmica competitiva nesses mercados.
Entre os parceiros comerciais do Brasil na CPLP, Portugal aparece destacadamente como o maior destino das exportações, com participação de 84,3% em 2022, expressivamente maior que o segundo destino, Angola, com 12,6%.
Segundo o Perfil, o comércio brasileiro com a CPLP mostra tendência de crescimento. Entre 2018 e 2022, as exportações brasileiras para os países da Comunidade apresentaram um crescimento médio anual de 26,6%. Para o biênio 2022-2024, é esperado crescimento médio anual de 3,6%.
Importações de países da CPLP
As importações brasileiras provenientes da CPLP também são relativamente concentradas: os cinco principais grupos de produtos representam cerca de 75% da pauta, com destaque para Óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos crus (28,8%), Gorduras e óleos vegetais, “soft”, bruto, refinado ou fracionado (17,8%), no segmento de commodities, e no segmento de produtos com maior valor agregado: aeronaves e outros equipamentos, incluindo suas partes (7,1%), e Bebidas alcoólicas (3,7%).
Em 2022, Portugal foi também a maior origem das importações brasileiras, com participação de 56,3%. Entre os principais produtos estão azeite de oliva e partes e peças de aeronaves, sendo estes últimos devido à operação de subsidiária da Embraer naquele país. Após Portugal, Angola segue como a segunda maior origem de importações, com 43,6% (basicamente Óleos brutos de petróleo).
Entre os principais fornecedores para o mercado brasileiro, os Estados Unidos concorrem com os países da CPLP em Óleos brutos e Óleos combustíveis de petróleo.
Acesso a mercados
Não existe acordo de comércio entre todos os membros da CPLP. Da mesma forma,nenhum dos países da CPLP possui acordo comercial com o Brasil. No entanto, Mercosul e União Europeia concluíram, em 2020, as negociações para a criação de uma área de livre comércio. Atualmente, os textos do acordo estão em fase de revisão jurídica para posterior assinatura e processo de internalização.
Entre os grupos de produtos mais protegidos, destacam-se alíquotas incidentes nos grupos “bebidas e tabaco” com tarifas variando entre 15,8% e 56,6%, considerando cinco dos noves países analisados. O grupo “vestuário” aparece como um dois mais protegidos em quatro dos nove países analisados, com variação tarifária entre 20% e 35%. Dentre os países da CPLP, o Timor-Leste é o que possui menor tarifa simples NMF, média de 2,5%.
Investimentos
Em termos comparativos, a CPLP, como um conjunto, ocuparia a 18ª posição no ranking de estoque de investimento estrangeiro direto (IED) no Brasil em 2021.Entre 2012 e 2015, o estoque de IED da CPLP no Brasil teve uma redução, voltando a crescer a partir de 2016. Em 2021, alcançou US$ 11,9 bilhões, impulsionado pelo crescimento do estoque de IED português no país.
Pela ótica do número de empresas que operam no Brasil, houve um aumento significativo da quantidade de empresas portuguesas entre 2010 e 2020, com redução do número de empresas angolanas. Além destes, entre os membros da CPLP apenas Cabo Verde tem empresa operando no Brasil. No total, o número de empresas de países da CPLP que atuavam no país em 2020 era de 796.
Na perspectiva dos investimentos greenfield anunciados, destacam-se os vários investimentos da EDP (Portugal) no Brasil entre os quais a fábrica de hidrogênio verde em São Gonçalo do Amarante-CE (2022), e a abertura do Data Center da Angola Cables em Fortaleza-CE, em 2023.
Quanto aos investimentos do Brasil em países da CPLP, o estoque de IED brasileiro cresceu 38% entre 2020 e 2021, registrando US$ 6,97 bilhões em 2021, distribuídos entre Portugal (US$ 5,6 bilhões), Angola (US$ 1,2 bilhões), Moçambique (US$ 68,4 milhões) e Guiné Equatorial (US$ 39,5 milhões).
Em termos comparativos, o conjunto dos países da CPLP ficaria na 13ª posição no ranking de destino do estoque de IED brasileiro em 2021. Essa posição já chegou a ser a décima entre 2012 e 2013.
Na perspectiva dos investimentos greenfield anunciados, destacam-se o anúncio da fábrica de motores elétricos da WEG em Santo Tirso, Portugal, estimada em US$ 27 milhões em 2022; a abertura da sede regional da TV Miramar (Record) em Maputo, Moçambique em 2023, estimada em US$ 65 milhões, e a sede regional da Transdata em Luanda, Angola em 2023, estimada em US$ 27 milhões.
Para acessar o estudo na íntegra, clique aqui
Sobre os estudos de Perfil da ApexBrasil
Os estudos Perfil País oferecem visão panorâmica e análises sucintas sobre os principais mercados mundiais, permitindo às empresas brasileiras rápido acesso aos aspectos mais relevantes para comércio e investimentos. Estão disponíveis informações como oportunidades para negócios brasileiros no país, macroeconomia, balança comercial, principais concorrentes e fornecedores, governança, investimentos e acordos em comércio internacional, entre outras. Acesse aqui todos os Perfis já publicados.
Sobre a ApexBrasil
A ApexBrasil atua para promover os produtos e serviços brasileiros no exterior e atrair investimentos estrangeiros para setores estratégicos da economia brasileira. A Agência apoia atualmente cerca de 15 mil empresas em 80 setores da economia brasileira.